Artigo destaca a importância de políticas públicas integradas que considerem a saúde humana na sua dimensão de qualidade de vida, evitando enfocar em apenas algumas doenças.
Publicado na Agência Fiocruz Notícias.
Publicado na plataforma da iniciativa SDG Action da Organização das Nações Unidas (ONU), o artigo Doenças não comunicáveis: um desafio para a cooperação global, de autoria da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, e do coordenador do Centro de Estudos Estratégicos, Carlos Gadelha, destaca a importância de políticas públicas integradas que considerem a saúde humana na sua dimensão de qualidade de vida, evitando enfocar em apenas algumas doenças. “Mais do que olhar para uma só doença, precisamos ver as condições de saúde e dos sistemas de saúde. O pior que pode acontecer para a sustentabilidade e o desenvolvimento são ações fragmentadas. Deve haver uma preparação do sistema para responder às epidemias e às pandemias, assim como aumentar a capacidade de atender as doenças crónicas”, comenta Nísia Trindade.
Segundo Carlos Gadelha, o artigo destaca três grandes mensagens. A primeira ressalta que o processo que o mundo vive deve ser compreendido como uma sindemia, termo que destaca a convergência entre doenças e os seus determinantes sociais. Para o pesquisador, não existe uma dicotomia entre doenças comunicáveis e não-comunicáveis, em que um grupo deve ser priorizado sobre o outro, até porque a Covid-19 tem demonstrado que os fatores de risco da pandemia são invariavelmente relacionados a doenças crónicas. “A saúde precisa de uma abordagem sistêmica e, quando falamos de uma sindemia, falamos de problemas de saúde que são complexos e que existe uma determinação conjunta deles”, afirma.
A segunda mensagem destacada pelo artigo é que, se a situação de saúde é sistêmica, as políticas públicas também devem ser sistêmicas. Para os autores, a saúde constitui uma oportunidade única que alerta o mundo e o Brasil para a integração de políticas. “Ao olhar o contexto atual da saúde percebemos que ele tem claramente uma dimensão econômica, sendo uma das principais áreas de geração de emprego; é inerente ao bem estar social; é a área líder da geração de ciência e tecnologia; e é crucial para a relação com o meio ambiente”, afirmou Gadelha. O artigo destaca que a saúde não é uma externalidade do desenvolvimento econômico; saúde é desenvolvimento porque integra essas quatro dimensões.
Por último, o artigo alerta que, no contexto mundial, está se reforçando a desigualdade do conhecimento e da capacidade científica e tecnológica de inovação. O texto aponta, por exemplo, que 60% das patentes em biotecnologia para doenças crônicas estão concentradas em 15 empresas globais. “Fica clara uma concentração insustentável da capacidade produtiva em biotecnologia para doenças crônicas. A perspectiva é que, se essa desigualdade global no conhecimento e tecnologia for mantida, a Agenda 2030 vai falhar, como está ocorrendo na vacinação contra a Covid-19, em que a maior parte dos países está sendo excluído do acesso a vacinas”, observa Gadelha.
O convite para participar da iniciativa SDG Action é considerado por Nísia Trindade como um reconhecimento da importância estratégica da Fiocruz no âmbito da América Latina e de uma discussão global que chama a atenção para a necessidade de maior equidade do conhecimento, da capacidade tecnológica e da produção. A presidente da Fiocruz considera que esta visão de equidade articula a dimensão nacional com a global na procura por estabelecer um padrão de cooperação solidária e não competitiva.
A SDG Action
Ação para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) ou SDG Action, em inglês, é uma nova iniciativa lançada pela Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU (SDSN, sigla em inglês) que oferece recursos para profissionais da sustentabilidade em todos os setores e traz uma análise oportuna dos desafios mais urgentes. Sua ênfase se dá na identificação de oportunidades e no fornecimento de maneiras concretas de acelerar o progresso. O site apresenta artigos de especialistas líderes mundiais em todos os aspectos dos ODS e da ação climática. Conheça mais aqui.
Fonte: Jornal GGN