A cada 24 horas, ao menos treze mulheres foram vítimas de violência em 2024

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Relatório mostra que mais de 4 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de violência; feminicídio e agressão física lideram ranking

Em 2024, ao menos 13 mulheres foram vítimas de violência a cada 24 horas em nove estados monitorados pela Rede de Observatórios de Segurança, de acordo com o novo boletim Elas Vivem: um caminho de luta, divulgado nesta quinta-feira (13) pela organização. 

Ao todo, foram 4.181 mulheres vítimas de algum tipo de violência, o que representa um aumento de 12,4% em relação a 2023, quando o Amazonas ainda não fazia parte deste monitoramento. O estado começou a fazer parte da Rede em janeiro do ano seguinte.

Segundo o relatório, o principal tipo de violência ocorrido às mulheres foi tentativa de feminicídio e agressão física (1454 casos); seguida de violência sexual/estupro (831; homicídio (624); feminicídio (531); agressão verbal (281); tentativa de homicídio (249); cárcere privado (147); dano ao patrimônio (83); sequestro (83); tortura (77); transfeminicídio (12) e supressão de documentos (13). 

“A quinta edição do relatório Elas Vivem expõe a realidade em dados estatísticos e em histórias de mulheres vitimadas por uma sociedade que ainda insiste em impor controle sobre corpos e sobre vidas. Continuamos chamando atenção ano após ano para um fenômeno muito maior do que essa amostragem que foi normalizado pela sociedade e pelo poder público como apenas mais uma pauta social”, afirma a Rede.

O relatório destaca que 531 mulheres foram vítimas de feminicídios, o que significa dizer que, a cada 17 horas, uma mulher morreu em razão do gênero. Os crimes foram cometidos por pessoas próximas em 75,3% dos casos, e se consideramos somente parceiros e ex-parceiros, foram 70,0%. 

“Apesar de importantes avanços ao longo dos anos com a institucionalização dos mecanismos de proteção às mulheres, como as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), a Lei Maria da Penha e a tipificação do feminicídio como crime – que deveriam estar mais consolidados e dotados de melhores condições de funcionamento –, a violência contra mulheres e o feminicídio continuam sendo uma realidade alarmante em nosso país”, disse Edna Jatobá, que assina o principal texto desta edição do relatório.

Outros dados destacados pelo Observatório  em relação aos estados monitorados são: 

  • No Amazonas, 84,2% das vítimas de violência sexual tinha de 0 a 17 anos;
  • Pernambuco lidera em casos de mortes de mulheres (feminicídio, transfeminicídio e homicídio) no Nordeste, com 167 vítimas;
  • Bahia apresentou redução de 30,1% em comparação ao ano anterior;
  • Com 1.177 casos, São Paulo é o único estado entre os monitorados que registra acima de mil eventos de violência;
  • Maranhão tem aumento alarmante de 87,1% nas violências contra mulheres;
  • Rio de Janeiro é o estado com mais casos de violência envolvendo agentes;
  • Ceará tem o maior registro de violências contra mulheres em sete anos;
  • Piauí tem aumento de 17,8% nos eventos de violência;
  • Pará tem aumento de 73,2% na violência contra mulheres.

Confira abaixo as informações de cada estado

  • São Paulo

Liderando o ranking, São Paulo é a única região monitorada com mais de mil eventos violentos contra mulheres em 2024. Foram 1.177 casos, um aumento de 12,4% em relação ao ano anterior. Entre as vítimas de violência com registro etário, 378 mulheres tinham de 18 a 39 anos – 422 não tiveram essa informação disponibilizada. Foram 144 feminicídios, sendo 125 cometidos por parceiros ou ex-parceiros. A capital teve os maiores números: foram 149, seguida de São José do Rio Preto, com 66, e Sorocaba, com 42.

  • Rio de Janeiro

Em segundo lugar, o Rio mantém a violência de gênero em patamares preocupantes e crescentes (de 621 para 633 em um ano) – aumento de 1,9%. Do total, 197 crimes foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros. Feminicídios e tentativas também registraram altos números: 63 e 261, respectivamente. Chamam atenção também os 103 casos de violência sexual/estupro. Do total de 64 eventos violentos, 13 foram cometidos por agentes da segurança pública.

  • Amazonas

Aparecendo pela primeira vez no monitoramento da Rede de Observatórios, o Amazonas registrou 604 casos, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro em números de violência, e superando estados mais populosos, como Bahia e Pernambuco. Foram 33 feminicídios cometidos, 15 deles por parceiros ou ex-parceiros. Também chama atenção que 84,2% das vítimas de violência sexual tinha de 0 a 17 anos. Além disso, 97,5% não tiveram identificação de raça/cor. O estado registrou dois casos de transfeminicídio.

  • Bahia 

O estado apresentou redução de 30,2% nos eventos de violência em um ano (de 368 para 257). Em 73,9% dos casos as vítimas não tiveram raça ou cor identificada. Entre os 46 feminicídios, 34 não tiveram essa informação. A capital baiana, Salvador, foi a que mais registrou eventos, com 68 no total. A Bahia também teve 96 mortes de mulheres (feminicídio e homicídio). Nenhum transfeminicídio foi registrado.

  • Ceará

O ano de 2024 foi considerado o pior em sete anos Os 207 em relação à violência contra mulheres no Ceará. O estado registrou 207 casos no ano passado. Em comparação com 2023, o aumento foi de 21,1%. Os feminicídios também aumentaram: de 42 para 45. A maioria das fatalidades tinha mulheres entre 18 a 39 anos. Parceiros e ex-parceiros cometeram 56 das violências. O estado também registrou um caso de transfeminicídio.

  • Maranhão 

O Maranhão assustadoramente cresceu quase 90% na violência de gênero. O estado passou de 195 para 365 eventos violentos – 151 deles cometidos por parceiros e ex-parceiros. Foram 54 fatalidades, sendo que 31 delas tinham entre 18 e 39 anos. Quase 100% dos crimes não tiveram identificadas raça e cor (93,7% das ocorrências).

  • Pará

O Pará também registrou um crescimento alarmante sobre os eventos de violência – alta de 73,2% (de 224 para 388). A motivação dos casos majoritariamente não teve registro (81,3%), mas 63,4% dos crimes foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros. Chama atenção também o alto índice de agressões registradas com uso de arma de fogo (96) e facas e objetos cortantes (95). 

  • Pernambuco 

O estado teve uma redução pequena, de 2,2% (de 319 para 312), mas ainda demanda bastante atenção. Pernambuco ficou atrás apenas de São Paulo nas mortes de mulheres (feminicídio, transfeminicídio e homicídio), com 167 eventos. Foi o segundo estado, entre os nove, com mais casos de feminicídio: 69 casos. 

  • Piauí 

O estado registrou crescimento de 17,8% nos crimes ligados a gênero (de 202 casos para 237). Teresina teve, disparadamente, o maior número de casos (101), seguida por Parnaíba (14). Foram 57 tentativas de feminicídios e 36 feminicídios. A exemplo de outras regiões, o Piauí também teve problemas de transparência dos dados. 52,7% ficaram sem registro de motivações e 97,2% sem os marcadores social e étnico-racial, informações necessárias à compreensão do fenômeno e para o direcionamento de políticas públicas.

FONTE: REVISTA FÓRUM