Para presidente do IBGE, Brasil caminha para “novo subdesenvolvimento” ao permitir que empresas privadas estrangeiras usufruam de seus dados
Em entrevista ao programa Fórum Café desta sexta-feira (19), o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Marcio Pochmann apresentou de maneira detalhada o seu projeto de Sistema Nacional de Dados.
O economista e presidente da instituição tem defendido uma posição de soberania nacional a partir da questão dos dados, e, analisando o cenário da economia global, enxerga que o país tem entrado na condição de “novo subdesenvolvimento”.
“Nós estamos numa outra fase de recuperação da instituição e uma modernização rumo a construir um sistema nacional de geociências, estatísticas e dados. Ou seja, o IBGE voltar a ser o grande coordenador das informações e enfrentar a perda de soberania a qual nós estamos submetidos diante do papel das big techs“, explicou Pochmann.
Para o professor da Unicamp, a questão dos dados é um novo dilema da soberania. No século 19, a questão era a soberania política. No século 20, o Brasil debateu a soberania econômica e o subdesenvolvimento. Agora, é a hora do país ingressar no debate sobre a soberania de informações.
“Na era digital, nós praticamente estamos submetidos a um censo a todo dia. Todas as suas decisões de ouvir música, de direção, para se deslocar para algum lugar, de pagamento, de compra, enfim, todas as suas decisões são dados brutos que viram uma forma de extrativismo pelas big techs, empresas estrangeiras que coletam essas informações, que trabalham, dilapidam essas informações e depois se transformam num grande negócio”, explica o professor.
“Isso nos aprofunda no subdesenvolvimento. Nós estamos permitindo que o extrativismo digital nos permita que essas empresas tenham alta lucratividade, não pagam impostos, não geram emprego, o país não tem essa tecnologia para poder operar nacionalmente como outros países”, afirma Pochmann.
A proposta é que até o ano de 2026, o IBGE tenha controle amplo sobre os dados de maneira interconectada sobre a realidade brasileira ampla.
Mas o que isso significa? Segundo o presidente do órgão, a ideia é que o governo consiga ter acesso a dados anonimizados das redes sociais e empresas de telecomunicações para entender melhor a realidade brasileira.
“Essa é uma discussão que começamos a fazer com as empresas de telecomunicações do Brasil, porque nós não queremos os dados nomeados, nós queremos os dados desnomeados”, afirma Pochmann.
“Eu não quero saber se o telefone é do João, da Maria, isso não me interessa. Me interessa saber, por exemplo, qual é o fluxo de mobilidade em determinados lugares, quantas pessoas visitam tais coisas, qual o perfil das pessoas”, explica.
“Essas informações nos servem para políticas públicas. Ou seja, nós temos um outro mundo pouco conhecido e o papel do IBGE é conhecer esse novo mundo e oferecer para os gestores públicos, para os governos, para as empresas privadas, para quem toma decisões”, afirma.
Ou seja: a ideia é utilizar dados anonimizados que podem ajudar na gestão de políticas públicas e da democracia,através do que já é produzido pelo
Essa é a nossa discussão que nós abrimos. Tivemos o apoio do Ministério das Comunicações, por exemplo, já abrimos um diálogo nesse sentido. Porque como a gente vai na casa das pessoas, saber como as pessoas vivem, quanto ganham, enfim, informações são estratégicas para tomar decisões. Saber o quais é pobre ou é rico. A renda está aumentando, a política está indo certo, a econômica está indo certo, o social está indo ou não. São informações para a democracia do Brasil, nesse sentido.
Confira a entrevista completa de Márcio Pochmann ao Fórum Café desta sexta-feira (19):
FONTE: REVISTA FÓRUM