Passado um ano desde o início da maior greve da educação federal nos últimos tempos, é preciso afirmar com clareza: o governo federal ainda não cumpriu pontos centrais do acordo de greve firmado com a categoria. Apesar das vitórias arrancadas com muita luta, a condução das pautas acordadas tem sido marcada por uma morosidade excessiva e uma falta de prioridade que afronta o esforço coletivo feito durante a greve. O reajuste salarial, por exemplo, prometido para janeiro de 2025, só será efetivado em maio — mesmo com a Lei Orçamentária Anual (LOA) já aprovada. Esse atraso revela o descaso e o descompromisso com o que foi acordado com a categoria.
É importante lembrar que essa greve, que mobilizou amplamente os trabalhadores e as trabalhadoras da educação federal por meses, não foi encerrada por cansaço ou rendição, mas por um acordo político firmado com o governo federal — um governo que se comprometeu publicamente com a recomposição salarial, a reestruturação das carreiras e a valorização dos serviços públicos.
Encerramos a greve com a confiança de que estávamos diante de um governo que respeitaria a palavra empenhada. Mas o que temos visto, desde então, é um jogo perigoso de postergações, burocracias seletivas e promessas que vão se dissolvendo na lentidão institucional.
A forma como o governo tem conduzido esse acordo é desrespeitosa com quem segurou o país durante a pandemia, com quem forma trabalhadores e cidadãos todos os dias, e com quem acreditou que a mudança viria pelas urnas e pela mobilização social. A morosidade no cumprimento de compromissos assumidos em mesa de negociação ataca diretamente a credibilidade do próprio governo e revela uma visão tecnocrática e insensível da gestão pública, onde a educação parece seguir sendo empurrada para os últimos lugares da fila.
A base está atenta, organizada e indignada. Não estamos lidando com favores — estamos cobrando aquilo que foi conquistado com suor, com greve, com enfrentamento, e, sobretudo, com esperança. Acordo assinado é acordo a ser cumprido! E se o governo insiste em testar os limites da nossa paciência, que saiba: nós sabemos como parar, como lutar e como fazer barulho.
Não podemos deixar de destacar que fomos parte ativa na eleição do governo Lula. Elegemos este governo com a esperança de que ele fosse diferente dos anteriores, especialmente no trato com os serviços públicos e com a educação. No entanto, o que temos assistido é uma lógica de desresponsabilização e de lentidão que não condiz com os desafios estruturais enfrentados por nossas instituições. A morosidade atual mina a confiança e exige uma reação à altura do que vivenciamos nas ruas, nas assembleias e nas trincheiras da greve.
Programas como o “Pé-de-Meia” ou o “Pé-de-Meia Licenciatura” são iniciativas limitadas diante da realidade da educação brasileira. São medidas paliativas, com forte apelo midiático, mas que não atacam os problemas estruturais da formação docente, da valorização profissional e do financiamento da educação pública. Não dá mais para aceitar esse modelo de compensação simbólica quando nossas pautas exigem mudanças reais e profundas.
A nossa tarefa agora é seguir mobilizados. A greve nos ensinou que só conseguimos avançar quando estamos organizados e em movimento. Não basta confiar — é preciso pressionar. A base da educação federal deve seguir vigilante e mobilizada, exigindo o cumprimento integral do acordo de greve e avançando nas pautas ainda pendentes. O governo precisa entender que não basta assinar: é preciso executar!
Se aprendemos algo com essa greve pedagógica, é que a luta não se encerra com o fim da paralisação. Ela continua nas salas de aula, nos corredores dos institutos, nas assembleias e nas redes sociais. A greve é um marco, mas a mobilização permanente é o que transforma.
Porque para nós, classe trabalhadora, a luta é permanente.
Valmir Arruda: docente do Campus Canindé. Durante a greve, foi membro do comando de greve e compôs a diretoria colegiada do SINDSIFCE. Atualmente, representa o sindicato no Fórum Permanente em Defesa do Serviço Público Ceará.
FONTE: SINDSIFCE