Os Correios, públicos, serão essenciais para colocar o modelo de pé. Hoje em dia, o maior diferencial das grandes plataformas é a distribuição
Atenção, presidente Lula.
Sua gestão, até agora, tem sido a de reconstrução institucional e do Estado brasileiro. Isso significa entender a relevância de instituições, empresas públicas ou privadas, na construção do futuro.
Há uma ênfase relevante na reindustrialização, na transição energética etc.
Mas há uma bandeira poderosíssima, que o fará se aproximar dos pequenos empreendedores, pequeno comércio e indústria, enfrentando o novo perfil da economia digital.
A lógica é simples.
A melhor maneira de fortalecer as pequenas empresas será através de consórcios, os chamado Arranjos Produtivos Locais (APLs) ou, na versão nova, de Arranjos Produtivos Digitais (APLD).
O funcionamento dá um pouco de trabalho, mas o país possui as instituições e as organizações necessárias para o desafio.
Os passos são os seguintes:
Onde está o busílis da questão?
Ao longo das últimas décadas, o Brasil jogou fora inúmeras oportunidades para políticas duradouras e de fortalecimento dos pequenos. Mas nada se equipara à tentativa de privatizar os Correios, anunciada recentemente.
Os Correios, públicos, serão essenciais para colocar esse modelo de pé. Hoje em dia, o maior diferencial das grandes plataformas é a distribuição, a entrega imediata do produto adquirido. E a única empresa capaz de permitir aos pequenos produtores ingressarem no mercado é justamente os Correios.
Em vez desse desperdício de pretender privatizar os Correios, melhor faria o governo em promover grandes acordos com distribuidoras internacionais, como o Fedex, para colocar produtos brasileiros no exterior.
Em meados dos anos 90, apresentei essa ideia para o Banco do Brasil, Ministério das Comunicações e Apex. A ideia era estimular os funcionários do banco a identificar empresas candidatas – e ninguém conhece melhor o potencial das pequenas empresas do que os bancos públicos. O presidente Ximenes comprou a ideia.
Ao Pimenta da Veiga – que assumiu o Ministério das Comunicações no lugar de Sérgio Motta – sugeri uma negociação com a Fedex. A empresa estava querendo entrar no país associada aos Correios. Que o governo exigisse dela, como offset (compensações) abrir seu banco de dados de clientes em vários países, para trabalhar produtos brasileiro. Era o início de uma era em que começa a operação de serviços de courier internacional. Foi como falar com uma pedra.
A Apex estava recém criada, entregue a um diplomata burocrático. Um mês depois, voltei à Brasília para conversar com ele e fui apresentado a uma ideia que ele acabara de ter: o meu projeto.
Obviamente, a ideia jamais saiu do papel.
Agora, tem-se à mão os principais ingredientes para uma grande política de digitalização capaz de mobilizar sistema S, associações comerciais, agricultura familiar.
Tudo isso poderá ir água abaixo se persistir nessa loucura de privatizar os Correios. Os Correios pertencem a restrito e relevante campo das estatais essenciais.
FONTE: JORNAL GGN