Censo de 2022 do IBGE revela um crescimento expressivo na taxa de conclusão do ensino superior e melhorias na educação básica
Os dados do Censo Demográfico 2022: Educação-Resultados Preliminares da Amostra, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado na quarta-feira, (26), mostra que as desigualdades ainda marcam o acesso e a conclusão dos diferentes níveis de ensino, apesar dos avanços na educação brasileira nas últimas décadas.
Houve um crescimento expressivo na taxa de conclusão do ensino superior e melhorias na educação básica. No entanto, disparidades raciais, de gênero e regionais revelam que o progresso não é uniforme. A persistência dessas desigualdades reforça a necessidade de políticas públicas mais eficazes voltadas à equidade educacional e à superação de barreiras estruturais que limitam oportunidades para grupos historicamente marginalizados.
“Nós temos essa defasagem por conta da ausência de um financiamento adequado, os ataques que sofremos, a omissão no primeiro Plano Nacional de Educação [PNE]. O golpe contra a presidenta Dilma também tirou a efetividade do acompanhamento da população, da participação popular e social, e na implementação do plano de educação”, afirmou Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).
Programa do governo federal
Para Araújo, embora o governo federal tenha lançado o programa Pé-de-Meia, que oferece apoio financeiro a estudantes do ensino médio público inscritos no CadÚnico, visando a redução da desigualdade social e estimular a inclusão educacional ainda há uma gente na pobreza que precisa de mais auxílios que não chegam a todos.
“A gente tem uma parcela da população vivendo na pobreza, na miséria, e mesmo com o Bolsa Família, esse apoio não chega para todos. E, quando chega, ainda falta uma articulação melhor entre os governos federal, estadual e municipal. Um exemplo disso é a ausência de uma lei para o Sistema Nacional de Educação, que já estava prevista na Constituição de 1988, mas nunca foi aprovada”, completa Heleno.
O Pé-de-Meia oferece aos estudantes R$ 200 mensais pela frequência escolar e mais R$ 1.000 ao final de cada ano concluído. O valor ficará disponível após a formatura. A participação no Enem garante mais R$ 200. O total pode alcançar R$ 9.200 por aluno ao ano.
Frequência escolar
Outra preocupação, de acordo com o Censo, a ser considerada é que, embora os números sejam favoráveis ao sistema educacional do país, é a de que, em 2022, a frequência escolar bruta era de 33,9% na população entre zero e três anos e de 86,7% na faixa de 4 a 5 anos.
A Meta 1 do Plano Nacional de Educação (PNE) é uma frequência de, no mínimo, 50% para crianças com até três anos e de 100% para as crianças de quatro a cinco anos. Lembrando que parte das famílias dessas crianças pode receber o Auxílio Bolsa Família¸ que estipula um valor médio do benefício de R$ 671,81 para as famílias dos alunos de quatro e cinco anos que frequentam, no mínimo, 60% das aulas e par àqueles jovens, de seis a 18 anos, que frequentam, no mínimo, 75%.
Veja os principais tópicos do documento apresentado pelo IBGE
O trabalhador e a educação
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado em 2024, fecha a lente na educação dos trabalhadores. Segundo o estudo “A Evolução da Sobre-Educação no Brasil e o Papel do Ciclo Econômico Entre 2012 e 2023”, o percentual de trabalhadores sobre-educados (profissional que tem uma escolaridade superior à exigida para o cargo que ocupa) passou de 26% em 2012 para 38% em 2020, mantendo-se estável até 2023.
O fenômeno atinge, sobretudo, profissionais com ensino médio completo em funções que exigem apenas o ensino fundamental. O estudo destaca ainda a necessidade de mudanças estruturais para ampliar a oferta de empregos mais qualificados, adequando a qualificação dos trabalhadores às demandas do mercado.
O estudo revela ainda que os homens apresentam maior incidência de sobre-educação, com a diferença em relação às mulheres aumentando ao longo do tempo. No recorte etário, jovens ainda lideram a taxa, mas o crescimento mais significativo ocorreu na faixa de 35 a 49 anos.
A análise por setor econômico indica que o aumento da sobre-educação foi generalizado entre 2012 e 2023. O avanço foi mais expressivo em segmentos como agricultura e alojamento e alimentação, onde a taxa subiu quase 20 pontos percentuais. Em contrapartida, setores que tradicionalmente demandam maior qualificação, como serviços financeiros e serviços prestados a empresas, registraram uma leve redução, inferior a um ponto percentual.
Esse estudo do IPEA não se aplica especificamente aos profissionais da educação que, segundo Heleno Araújo, a mão de obra da categoria está totalmente precarizada. “Atualmente, a maioria dos professores é formada em cursos a distância oferecidos por faculdades privadas, muitas vezes sem qualidade e sem a devida integração entre teoria e prática. Essas instituições apresentam documentação para obter autorização para os cursos, mas, na prática, não cumprem as exigências previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação”.
FONTE: CUT