Professores mal remunerados e privilégios inaceitáveis nas escolas cívico-militares

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É inaceitável que nos locais onde por natureza se desenvolve o trabalho dos professores eles sigam desprestigiados, desvalorizados, perseguidos e mal remunerados, enquanto militares da reserva obtenham remunerações incompatíveis com as tarefas secundárias que ali exercem

Por Professora Bebel

Os professores brasileiros recebem os menores salários iniciais entre 40 países pesquisados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). E sob governos ultraliberais como os de Bolsonaro e Doria experimentam um dos maiores arrochos da história. Hoje, a média salarial bruta dos professores no Brasil não passa de R$ 4.000. Desconsiderando as determinações do Plano Nacional de Educação e do Plano Estadual de Educação, sobretudo em suas Metas 17 e 18, que tratam dos salários e da carreira, esses governos desvalorizam os profissionais da Educação, vistos como verdadeiros inimigos.

Nossas escolas públicas são carentes de infraestrutura e de equipamentos e a maioria delas precisa de reformas urgentes. Na situação de pandemia que estamos vivendo, essas carências se tornam ainda mais explícitas. Pois a maior parte das escolas não dispõe de ventilação natural nas salas de aula, vitrôs estão emperrados. Al´ém disso, salas não têm metragem suficiente para que haja o distanciamento recomendado pelas autoridades sanitárias, faltam banheiros e bebedouros. Isso para não falarmos de laboratórios, bibliotecas e outras necessidades fundamentais no processo educativo.

No entanto, o governo Bolsonaro, com a adesão do governo Doria e de outros governos estaduais e municipais, vem impondo a transformação de escolas públicas em escolas cívico-militares. E desse modo recursos públicos acabam sendo desviados para um modelo autoritário, que pretende formatar corações e mentes da nossa juventude de acordo com uma ideologia que não respeita diferenças e diversidade, impondo pensamento único e uma disciplina de quartel. Disciplina essa que, diga-se de passagem, também é imposta aos professores e professoras dessas unidades.

Mas a gravidade desse modelo vai além

Meios de comunicação noticiaram que militares da reserva deslocados para exercer funções nessas escolas recebem adicionais entre R$ 4.000 a quase R$ 8.000 mensais. Isso além de suas remunerações normais, e para exercer funções que vão do controle da circulação dos estudantes a “ensino do hino e valores”. E o governo Bolsonaro pretende ampliar ainda mais o número de escolas cívico-militares no país, aumentando o desvio de recursos tão necessários à nossa educação pública.

As reportagens mostram que muitos pais e mães concordam em manter seus filhos e filhas nessas escolas cívico-militares, iludidos com a possibilidade de que elas os preparem para a carreira militar, o que não faz parte do projeto. Como se vê, esse projeto não passa de um subterfúgio para obter verbas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). E, com ela, engordar salários de militares, além de instituir um processo ensino-aprendizagem retrógrado frente a tantos avanços que a educação brasileira vinha experimentando desde a promulgação da Constituição de 1988.

A educação pública que queremos é plural, democrática, inclusiva, que articule ensino, ciência, cultura, esporte, tecnologias. Uma educação que não forme pessoas para obedecer. E, sim, cidadãos e cidadãs com autonomia intelectual e capacidade para transformar a realidade. Construindo seus caminhos, seja em relação à continuidade dos estudos, seja em relação ao mundo do trabalho e à vida pessoal. Uma escola pública que dê aos nossos estudantes a mesma formação das melhores escolas privadas, nada menos que isso.

É inaceitável que nos locais onde por natureza se desenvolve o trabalho dos professores eles sigam desprestigiados, desvalorizados, perseguidos e mal remunerados. Enquanto isso, militares da reserva ganhem remunerações incompatíveis com as tarefas secundárias que ali exercem.

É preciso parar Bolsonaro. Um governo de destruição que está acabando com a educação pública e promovendo inaceitáveis privilégios para os segmentos que o apoiam.

Maria Izabel Noronha, a Professora Bebel, é deputada estadual e presidenta da Apeoesp

Fonte: Rede Brasil Atual