Indicado por Lula para a presidência do “autônomo” Banco Central, Galípolo citou inglês, que prega intervenção do Estado na Economia e faz contraponto ao neoliberalismo, de Paulo Guedes e Roberto Campos Neto
Mostrando-se à vontade na sabatina realizada nesta terça-feira (8) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no Senado para ratificar sua indicação, feita por Lula, para a presidência do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo citou o economista inglês John Maynard, defensor da intervenção do Estado nos problemas criados pelo chamado livre mercado, e agradeceu ao presidente e ao “amigo” Fernando Haddad, ministro da Fazenda.
Adotada por diversos países da Europa após a destruição causada pela II Guerra Mundial, a teoria econômica keynesiana e o Estado de Bem-estar Social, propunha a intervenção do Estado na Economia para ampliar serviços públicos nas áreas da saúde, educação, habitação e previdência social e na garantia do emprego e do crescimento econômico.
A teoria de Keynes faz contraponto ao neoliberalismo, defendido por Paulo Guedes e Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, que acreditam que a economia se autorregula sem a intervenção estatal.
No entanto, o neoliberalismo sempre foi usado para acumulação de riquezes e favorecer os grandes financistas, que ganham dinheiro principalmente com empréstimos a alta taxas de juros, baseadas no Brasil na Selic – principal ponto de críticas de Lula ao atual comando do BC.
“Eu sempre encontrei sentido e motivação na afirmação de um economista inglês, do começo do século passado, que dizia: ‘a economia é a ciência que cuida de melhorar a vida da mulher e do homem comuns’. Essa é o sentido da economia”, disse Galípolo ao falar aos senadores o que o motivou a estudar economia.
O futuro presidente do BC ainda afirmou qual teria sido a orientação de Lula para que ele conduza a instituição, responsável pela política monetária do país.
“Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro, que cada ação e decisão se deve unicamente ao bem-estar da população brasileira”, disse Galípolo, que votou com a unanimidade para aumento da taxa de juros na última reunião do Comitê de Polícia Monetária, o Copom.
Ao listas sua trajetória de mais de 20 anos, ele detonou a meritocracia, outra bandeira do neoliberalismo, que busca responsabilizar o indivíduo por seu sucesso ou fracasso pessoal, independentemente do contexto social, econômico e político.
“Durante esses mais de 20 anos de atuação profissional eu assisti ao nascimento e proliferação de narrativas sobre a carreira pessoal onde a vitória era quase sempre atribuída a seus próprios méritos – ou seja, que a gente conseguia as coisas apesar de todas as circunstâncias e que toda derrota se configurava responsabilidade do outro e da circunstância. Me parece que são cada vez mais populares essas narrativas, capazes de gerar engajamento, os discursos com frases de que nunca ninguém me ajudou e que tive que fazer tudo sozinho”, afirmou.
“No meu caso, todas as oportunidades e eventuais êxitos que experimentei são devidos aos meus amigos, colegas, professores e familiares que me suportam e suportaram. Aproveito a oportunidade para dizer-lhes publicamente: muito obrigado”, emendou.
Ao final da sua explanação, antes das perguntas dos senadores, Galípolo agradeceu Lula, Haddad e também Campos Neto.
“Apesar de sentir que estão contemplados nas categorias de amigos, colegas e professores, quero aproveitar a oportunidade para agradecer ao presidente Lula pela indicação, a senadoras e senadores que me receberam tão bem, ao ministro Fernando Haddad, aos colegas em nome do presidente Roberto Campos e todos os servidores do Banco Central”, disse.
O clima tranquilo da sabatina, que já tem consenso sobre a aprovação do nome do economista para a presidência do Banco Central, era tanto que o senador bolsonarista Izalci Lucas (PL-MG) a pedir à mesa que a indicação fosse colocada em votação antes das perguntas, para poder liberar os senadores para outras atividades na casa.
Fonte: Revista Fórum