Interferências em estatais tendem a derrubar valor da Caixa, sob ameaça de privatização

Fenae alerta: interferências em estatais tendem a derrubar valor da Caixa, sob ameaça de privatização em momento de grandes incertezas

Levantamento divulgado esta semana revela que, em um cenário de instabilidade econômica e interferências do governo, maiores estatais brasileiras perdem quase R$ 100 bilhões em valor de mercado, só este ano. Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) observa que impactos em governança e desvalorização de empresas acendem luz amarela para outras estatais, a exemplo da Caixa e de subsidiárias do banco público ameaçadas de privatização

Brasília – As maiores estatais brasileiras — em um cenário de incertezas econômicas e interferências do governo — perderam, só este ano, quase R$ 100 bilhões em valor de mercado. O Banco do Brasil teve uma das maiores perdas: R$ 26,1 bilhões, o que representa queda de 30,8% no valor da estatal. Além do BB, as intervenções também impactaram na governança e no valor da Petrobras e da Eletrobras, por exemplo, acendendo a luz amarela em relação a outras estatais, como é o caso da Caixa Econômica Federal e das subsidiárias do banco público, ameaçadas de serem privatizadas apesar deste arriscado contexto político, sanitário e econômico.

O alerta é da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae). “Chamamos a atenção principalmente para a instabilidade do mercado e à caótica questão sanitária, com o aumento exponencial de contaminações e mortes pela covid-19, o que reflete diretamente na economia do país”, observa o presidente da Fenae, Sergio Takemoto. “A sociedade não pode aceitar que o governo venda a Eletrobras ou subsidiárias da Petrobras e da Caixa Econômica a preço de banana, queimando um patrimônio que é do Brasil”, afirma Takemoto, ao lembrar que a Caixa voltará, a partir da próxima terça-feira (6), à linha de frente do pagamento do auxílio emergencial e de outros benefícios sociais para milhões de brasileiros.

Os dados sobre a desvalorização das estatais constam de levantamento divulgado esta semana pela Economática, uma empresa de informações financeiras sobre o mercado latino-americano. De acordo com o estudo, a Petrobras perdeu 22,5% (ou R$ 68,6 bilhões) em valor de mercado. Em dólar, a queda é ainda mais expressiva: 34,5%.

No setor elétrico, a Eletrobras tem o pior desempenho em relação a valor de mercado: queda de 8,5%. A rival Eneva, por exemplo, viu seu valor aumentar 5,6%, segundo a Economática.

Ao jornal Folha de S Paulo, Sérgio Lazzarini, professor do Insper, afirmou que não só a crise gerada pela covid-19 pode prejudicar as estatais em 2021. Para ele, há risco de uma maior intervenção do presidente Bolsonaro nas empresas. “Momentos de crise aguda são uma encrenca para as estatais, porque elas sofrem com essa pressão [política] e tendem a ser afetadas mais negativamente”, disse. “Estávamos em um processo de reforço da governança das estatais e eu considero que o Bolsonaro destruiu os avanços recentes”, acrescentou Lazzarini.

Na última semana, o Conselho de Administração da Petrobrás aprovou a venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, para o Mubadala, fundo de investimento dos Emirados Árabes, que vai pagar US$ 1,65 bilhão pela fábrica de derivados de petróleo. Segundo o BTG Pactual, a proposta do Mubadala ficou 35% abaixo do limite inferior de suas estimativas. Já o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) estimou o valor de US$ 3 bilhões para o ativo — quase o dobro do que será pago pela refinaria.

CAIXA — No início deste último mês de março, a direção da Caixa registrou, em fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a oferta pública inicial de ações (IPO) de um dos braços mais rentáveis do banco público: a Caixa Seguridade. Esta é a terceira tentativa de abertura do capital da subsidiária.

Em setembro, o banco suspendeu a operação diante das condições adversas do mercado em razão da pandemia do coronavírus. O lançamento de ações da Caixa Seguridade se arrasta desde 2015, quando um primeiro prospecto preliminar foi enviado à CVM. Em outubro daquele mesmo ano, o processo foi suspenso.

Às vésperas de o IPO ser congelado no ano passado, em meio à pandemia, a operação da Caixa Seguridade era estimada em R$ 15 bilhões. Fonte ouvida pelo jornal O Estado de S Paulo, no último dia 25, analisou que “neste momento, se cogita que a oferta fique em torno de R$ 6 bilhões”; ou seja, menos da metade do que se estimava em 2020.

De acordo com gestor que falou em off ao Estadão, “não faz sentido, neste momento, analisar a entrada na oferta inicial de ações da Caixa Seguridade porque a interferência do governo na Petrobras fez crescer o pessimismo sobre essas empresas, provocando, a reboque, desvalorização das ações das estatais negociadas na Bolsa”.

Segundo o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, a oferta desta subsidiária ao mercado pode ocorrer por volta do próximo mês de setembro e há discussões sobre um eventual IPO da bandeira de Cartões Elo. Questionado se há falta de interesse para a venda de estatais em função da interferência de Bolsonaro no comando da Petrobras, por exemplo, Pedro Guimarães afirmou: “Não estamos vendo nenhum evento adverso para estatal. Muito pelo contrário; há interesse enorme (do mercado) em conhecer a Caixa Seguridade”.

Guimarães reforçou, ainda, a intenção de atrair investidores pessoas físicas para o IPO da subsidiária: “Será a maior oferta em termos porcentuais e em volume que as pessoas (físicas) vão participar”. Porcentual será grande, muito maior que os 10% normais porque a Caixa tem 100 milhões de clientes”.

Além da Caixa Seguridade e da área de Cartões, o governo também atua para a venda de mais segmentos estratégicas do banco público, como Gestão de Recursos, o ainda nem formalizado Banco Digital e até as Loterias Federais, cuja parcela relevante dos valores arrecadados é destinada ao Financiamento Estudantil (Fies) e para ações em Saúde, Segurança Pública, Seguridade e Cultura, além de outras áreas sociais.

“Estão dilapidando o patrimônio nacional. Querem fazer isso com a Caixa, Eletrobras, Petrobras, Correios, BNDES e tantas outras empresas que contribuem para o desenvolvimento econômico e social do país”, reforça o presidente da Fenae, Sergio Takemoto.

FONTE:GGN
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